OS CAJÓS

Ontem fui jantar com um amigo e lembrei-me destas personagens.

Cajó é frequentemente tido como o diminutivo de Carlos Jorge mas na realidade não é nada disso.

Um cajó é a categoria em que se inserem alguns empregados de mesa. Alguns, porque há requisitos a preencher. Para começar, o verdadeiro cajó trabalha num boteco, num tasco ou num estabelecimento de restauração similar. Jamais se irá encontrar um cajó a trabalhar num restaurante onde levamos a nossa namorada ou esposa. Há várias indicações que nos podem levar a concluir se o empregado de mesa é ou não cajó.

A indumentária: calça preta e camisa de manga curta branca ou azul clarinho é um bom começo. Um pano branco ao ombro fica sempre bem. Tatuagem Guiné 1972, Amor de mãe ou CAV 1480 é um excelente complemento. Há outros pormenores a partir dos quais também se pode detectar um verdadeiro cajó: meio quilo de gel ou 1 lata de brilhantina no cabelo penteado para trás (se for meio careca o efeito é duplamente melhor); bigodaça farfalhuda; caneta atrás da orelha e bloco de notas dentro do bolso da camisa; palito no canto da boca; cachucho no dedo anelar (mais anéis é de desconfiar da masculinidade) a condizer com o cordão de ouro a aparecer por entre a camisa aberta 3 botões.

Igualmente importante é a interacção com os clientes.
O cajó aprendiz na casa dos 20 anos que tenta galar as miúdas com umas larachas, leva nas orelhas dos mais velhos, na casa dos 50 – 60 anos. Não porque queiram impor respeito mas porque querem a caça para eles e há que respeitar a hierarquia. Os clientes de gravata são todos sôtôres ou shôres engenheiros aos olhos dos cajós. São eles que depois de beberem 3 ou 4 whiskies no final da refeição lhes deixam a melhor gorjeta, portanto têm sempre razão e são tratados com hossanas e améns!

Para além de tudo isto, o verdadeiro cajó é aquele que nos traz minis para a mesa sem termos que pedir e que após dois dedos de conversa já quer ser o nosso melhor amigo. Esse sim, é o nosso líder espiritual da restauração!