TEMOS MENINOS?

Hoje faz anos uma amiga húngara e por isso lembrei-me dum episódio quando a visitei há uns anos. Passei um fim de semana numa pequena cidade mineira do leste da Hungria, já perto da fronteira com a Ucrânia. A família dela que me acolheu extremamente bem era tão humilde como simpática. Viviam num apartamento minúsculo, de construção em betão, típica dos tempos do comunismo.

No domingo de manhã, o patriarca da família, um senhor na casa dos 50 anos, ex-mineiro reformado por invalidez, quis que eu provasse o típico pequeno almoço húngaro dos domingos. Sempre gostei de experimentar este tipo de coisas e fiquei entusiasmado. Só não fazia ideia do que é que constava a ementa.

Era meio da manhã. Sentamo-nos à mesa e a esposa do anfitrião foi trazendo a comida: morcela e couve cozida, toucinho salgado cortado às fatias e pão centeio muito escuro. A acompanhar, café. Não que eu tivesse problemas com o tipo de comida, para aquela hora é que talvez fosse um bocado pesado demais. Mas teve que ser. Comemos e para finalizar o senhor foi buscar uma garrafa de pálinka e dois cálices. Diz-lhe a filha:

- Não! Não lhe vais dar isso a beber. Ele não está habituado.
- Mas isto faz parte do pequeno almoço e o teu amigo vai gostar.

Acho que foi a aguardente mais forte que provei até hoje! Mal molhei os lábios. Pedi desculpa por não conseguir beber tudo mas não me livrei duma valente gargalhada do senhor Vadon.

Mas já devia ter percebido. Um ex-mineiro duma cidade onde no pico do inverno a temperatura chega a -20C, que na véspera a seguir ao almoço bebeu sozinho metade da garrafa de vinho do porto que lhe tinha oferecido e o restante ao jantar, do que é que eu estava à espera?