CENAS DE UM CASAMENTO: I

No fim de semana estive com amigos e amigas que se vão casar este ano e naturalmente isso foi tema de conversa.

De um modo geral não gosto de casamentos. Tanto que assim é que nem sei se vou aparecer no meu. Mas já fui a muitos e fiquei contente por ter sido convidado, porque são pessoas de quem gosto e lhes quero bem. A maneira como é organizado o dia na maior parte das cerimónias é que me aborrece.

As missas que são ao final da manhã e algumas mesmo depois do meio-dia, explicam várias coisas. Por exemplo, o facto da igreja estar apenas meia cheia e ser nesses dias que os cafés ao lado fazem mais dinheiro. A malta a essa hora está esgalgazinada com fome e não há rissol ou pastel de bacalhau que resista, portanto que se lixe a missa. E depois apanham-se grande bebedeiras. Obrigado!, se a festa começa logo de manhã, queriam o quê?? Além disso um salgado não é coisa que se acompanhe com um copinho de água...

Depois da missa há sempre a típica sessão de fotos. Mas para quê? Por que razão não há-de cada um trazer a sua máquina e tirar as fotos que quiser sem aborrecer os restantes convidados, obrigando-os a uma seca descomunal, quando por essa hora o pessoal já só pensa em comer, beber e galar o mulherio? Por falar nisso, as fotos de conjunto só podem mesmo servir para pormos a mão na cinturinha daquela prima afastada que até é um bocado bardajona, mas pronto.

Depois do almoço que dura em média três horas e acaba lá para as 5 ou 6 da tarde, os convidados ocupam-se com as mais variadas actividades. O casalinho de pombinhos convidados da noiva que vieram de longe, estão hospedados no mesmo hotel da tia da noiva que veio de Paris de França. O que é que o casalinho vai fazer a seguir ao almoço? Vai para o quarto fazer o amor. Ao lado, a tia da noiva calça as pantufas felpudas para descansar os joanetes e vai fazer uma sesta que a idade já não lhe permite aguentar estas andanças sem pausas. Quando está praticamente ferrada começa a ouvir gemidos. Arregala os olhos e solta um «oh la la!». Mas o festim continua no quarto ao lado. Como aquilo parece uma locomotiva com a caldeira a todo o vapor, decide ir malhar na porta deles:

- Não tendes bregonha, carago!? Está aqui uma pessoa para descansar! Se querendes apitar o comboio ide pra outro quarto! Merde, alors!

E lá volta para o seu leito, rosnando entre dentes.

Entretanto, o marido da tia que veio de Paris de França, está a negociar com o construtor civil que fez a casa dos noivos e arremata-lhe três vivendas com pronto pagamento:

- Oh Manteigas, olha que as casas têm bons acabamentos e estou a fazer-te um preço de amigo. Mais não te posso tirar que isto anda mau, bem sabes.
- Não há problema. Vou já dar-te um sinal em dinheiro e depois passo-te os cheques.

Vai ao bolso da camisa, tira um maço de notas de quinhentos euros, leva o polegar à língua e começa a contar.

- Olha, só tenho aqui 7 mil.
- Chega, chega bem.

Entretanto liga para a mulher que estava finalmente a dormir e ordena-lhe:

- Oh Emília, traz cá o meu livro de cheques que eu preciso de fechar aqui um negócio dumas maisons.

continua...