quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PERFEITOS INÚTEIS


A caminho da tal escola onde pela manhã algumas crianças correm alegremente em busca dos amigos, também há pais que dia após dia fazem questão de entregar os filhos directamente aos assessores de educação (leia-se, professores), fazendo das estradas e passeios públicos sua propriedade privada. Desconfio que alguns pais não entram com a viatura nas salas de aula apenas para não terem que fazer manobras. Este comportamento parental tem duas vertentes, sendo que ambas me irritam profundamente, ainda que de maneira diferente. Primeiro, aquela atenção redobrada que julgava ser necessária apenas quando atravesso a rua na passadeira, afinal também é fundamental durante a simples circulação pelo passeio, não vá um papá ou uma mamã distraído dar-me um toque com a sua viatura. Eles lá terão os seguros deles, mas eu só tenho uma vida e não a tenho assegurada. Segundo, tenho para mim que a entrega directa das crias no colo dos educadores, perdão, professores, fomenta aquilo que designo de criação de perfeitos inúteis. Esses mesmos que já em fase avançada da puberdade ainda não sabem em que botão do microondas carregar para aquecer uma pizza, a única comida que conhecem quando estão sozinhos. Não admira que mais tarde pensem que a interacção com as mulheres se faça também por meio de botões (qual playstation) e que no final o sentimento geral dos progenitores seja de rotundo falhanço em relação à educação que os professores tinham que obrigatoriamente dar aos seus pequenos.

5 comentários:

  1. Como escrevi antes: serão sempre crianças. Mesmo em estado adulto. Os da geração instantanêa, dos sms, do tweeters, dos relacionamentos microondas, do imediato à distância de um clique, do tudo pronto, do facilitismo cedido pelos condescendentes papás...and so on. Na mouche meu caro Jibóia.
    Osd pais colocam as suas responsabilidades nos ombros de professores (muito pouco vocacionados, mal pagos, mal formados e super frustrados)...o futuro da nação, até me arrepio ao pensar nisto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Xuxi, é como realmente vejo as coisas e só de pensar nisso...

      Eliminar
  2. Este texto fez-me lembrar todo aquele labrego que quase entra com a viatura para o interior do Centro Comercial para fazer compras! Estacionam onde querem.

    ResponderEliminar
  3. Eu ía sozinha para a escola primária, a minha avó ajudava-me a atravessar a estrada e depois estava por minha conta, e ainda eram uns 400m de caminho - aos 6 anos!!

    ResponderEliminar
  4. Pois eu cá cresci a ir a pé para a escola primária. Pelo caminho, apanhava flores, fazia tropelias, metia-me com os cães e até fui atropelada uma vez. A partir do preparatório, apanhava o autocarro para a escola sozinha. Nunca me caiu nenhum bocadinho, sempre fui saudável e hoje sou uma pessoa independente e capaz, mas visivelmente uma raridade entre alguns dos meus pares e certamente uma ave-rara nesta geração pós-90s.
    Estamos a criar inuteizinhos que só sabem queixar-se e a quem tudo cai no colo já feito. Preocupante, deveras.

    ResponderEliminar

Falem com o Jibóia, falem...