Sexta feira ao final da tarde estava eu num dos tascos em frente à estação de comboios de Campanhã, fazendo tempo que chegasse o comboio e matando a fome, quando entrou um jovem de vinte e poucos anos. Pediu um café ao balcão enquanto deixava cair disfarçadamente um saquinho com umas ervas lá dentro. Eu, que estava a distância suficiente para identificar o conteúdo da embalagem, depressa percebi o que se estava a passar. Não disse nada. Depois de beber o café, o rapaz dirigiu-se para a saída sendo imediatamente interpelado por umas velhotas sentadas a uma mesa:
- Uólhe! Uó menino! Bocê deixou cair uma saquinha.
Mas o rapaz, nada. Seguiu a sua marcha determinado em sair dali.
- Se calhar o rapaz num oubiu. Uó menino, uólhe que bocê deixu ali cair uma saquinha, num biu?
Imperturbável e já prestes a sair à rua, é surpreendido por uma das velhotas que entretanto se tinha levantado e recolhido, solicita, a tal saquinha.
- Enton mas bocê num oubia que o estabamos a chamáre, menino? Bocê deixou cair esta saquinha ali no balcoun.
Sem outra opção, o rapaz estendeu a mão rapidamente e agradeceu em tom baixo. Lá fora a polícia aguardava-o. Abordaram-no e suponho que tenham ido ter uma conversa com ele para a esquadra.
Digo suponho porque não pude confirmar esta teoria, uma vez que permaneci no "local do crime" a terminar o meu fino e o pastel de bifana, especialidade da casa.