Algo se passa com as mulheres portuguesas. Ultimamente é recorrente ver cartazes publicitários a apelar à memória histórica dos sabores do antigamente, muito engenhosamente denominados por sabores da avó. Toda a gente sabe que a arte culinária é coisa que vem sendo transmitida secretamente de geração em geração há muitos anos e a não ser que já haja head hunting de avós cozinheiras, não me parece que a Iglo, a Central Lechera e outras, tenham em seu poder tais receitas supostamente inalienáveis. É que se for o caso, chega-se à triste conclusão que as mulheres de hoje são dispensáveis, culinariamente falando, porque já não dependemos da sua perseverança, altruísmo e sentido de responsabilidade para um regresso ao passado, basta ir ao supermercado. Ou então são os publicitários (mais uma vez) a fazer pouco das mulheres da Península Ibérica. Aquela açorda de sável que a tua avó fazia como ninguém? Pfft!, nós também a sabemos fazer e vendemo-la baratinha, congelada em saquinhos.
E nós, homens? Somos um caso perdido, naturalmente. Contentemo-nos com as fusões, reduções e demais inovações dos tempos modernos. Alguém imagina um macho na cozinha a aprender a fazer uma feijoada de lebre ou uma tarde de ruibarbo com a mãe ou a avó, há 30 ou 40 anos atrás?