Já disse
aqui há uns tempos que as coisas sabem melhor se forem autênticas na forma, no espaço e no tempo. Contudo, há excepções que deviam antes ser a regra.
Um exemplo que rapidamente me vem à memória é o vinho. É sobejamente conhecido o arrojo com que os espanhóis defendem o que é deles, chegando por vezes a cair no exagero. Opiniões à parte, mais do que ter a própria indústria de produção e distribuição a cuidar dele, têm uma população que gosta e bebe bom vinho em qualquer tasco, fazendo disso um ritual. Quem visita Madrid rapidamente se apaixona por este culto diário perfeitamente enraizado e ao alcance da maioria aqui no burgo. Aprecio o facto de entrar num bar e verificar o quão banal é pedir um
Ribera, um
Rioja, um
Rueda, um
Somontano, sempre acompanhados pela devida tapa.
Já em Portugal, apesar dos excelentes vinhos que temos, parece-me que podíamos fazer mais por eles. É verdade que pouco a pouco começam a aparecer sítios onde é possível beber vinho a copo mas ainda são escassos e pouco democráticos. A maioria é vista como um local para ir de vez em quando ou apenas numa ocasião especial. Além disso, a cultura do vinho fora de casa (restaurantes à parte) é fraca e os preços não ajudam. Mas há um potencial tremendo por explorar. Talvez um dia as nossas regiões vinícolas andem na boca do povo que hoje mais facilmente pede uma imperial e tremoços: "
queria um Douro, um Alentejo, um Dão, um verde..."