quinta-feira, 19 de maio de 2011

AS FESTAS DE ANOS DO ANTIGAMENTE


Lembro-me de há muitos anos atrás ir a festas de aniversário dos meus amigos na terra dos doudos e de as mães nos virem buscar ao final da tarde. Ficavam na conversa umas com as outras e acabavam sempre por petiscar qualquer coisa. Além dos pudins boca doce, havia sempre umas sobremesas caseiras muito cobiçadas. Algumas mães, visivelmente agradadas e já a pensar na próxima surpresa a fazer ao marido, acabavam por pedir a receita. Normalmente a resposta da anfitriã era: "aaaaaaah... peço desculpa mas não posso dar. Isto é uma receita da minha mãe e é segredo". Algumas senhoras ficavam um pouco desanimadas, tristes até. Outras ficavam furiosas e chegadas a casa metiam-se na cozinha tentando imitar. Não sabendo bem o que estavam a fazer, acabavam por gastar os ovos todos que tinham na dispensa numa mixórdia sem jeito nenhum e para repetir a experiência, teimosas que só elas, tinham que esperar uma semana até que as galinhas pusessem mais uma dúzia de ovos. É que naquele tempo não havia cá essas modernices de comércios abertos até às tantas e muito menos ao fim de semana, apenas exisita a mercearia do senhor Manel que fechava à hora da pinga, ou seja, praticamente todas as tardes. Convém acrescentar que as senhoras que se esqueciam de guardar dois ou três ovos para servir cozidos juntamente com o bacalhau com grão de domingo ao almoço, tinham um problema suplementar: estavam feitas com os maridos.

Também havia o caso das receitas adulteradas segundo a imaginação de cada uma, originando novas sobremesas. Algumas melhores até que a original. Na festa de aniversário seguinte em que a nova iguaria era apresentada, havia nova cobiça, nova desculpa esfarrapada para não dar a receita, nova tentativa de imitação e nova inveja. Eram tempos novelísticos muito emocionantes. Depois vieram os continentes e afins e com eles a alsa, a royal e essas porcarias e os tempos nunca mais foram os mesmos. Resultado, exceptuando o facto de termos despertado para certas protuberâncias femininas, gastronomicamente as festas de anos deixaram de ter interesse.

3 comentários:

  1. Lembro-me tão bem das festas de anos do antigamente.
    A gelatina, os pudins e a mousse.
    Os sumos manhosos e os bolos de iogurte...
    As sandes de queijo e fiambre... Oh pá, que saudades :)

    Não me lembro das receitas, porque ainda hoje eu quando sou convidada a fazer algum doce levo sempre gelatina... :)

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  2. Mas o que é que tu tens contra a mousse alsa, hein???

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  3. xiii, as festas do antigamente...
    Agora temos os bolos da caneca no microondas e o resto compra-se feito e de plástico!

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Falem com o Jibóia, falem...