Por falar em NY, enquanto as próximas férias teimam em não chegar, pelo menos posso recordar férias passadas.
Plovdiv, Bulgária. Oito da tarde.
Esperavamos o comboio que havia de nos levar a Istambul. A viagem seria longa e a chegada estava prevista para as 7h da manhã do dia seguinte. Havia ciganos na plataforma que mais parecia terem saído directamente dum filme do Kusturica. Uma das carruagens mal chegava para eles e a sua tralha: caixas de cartão com roupa, fruta, vodka, guitarras, candeeiros a petróleo, molhos de ripas de madeira e sei lá mais o quê!
Instalamos-nos num compartimento só para nós. O comboio partiu e foi avançando vagarosamente pela noite dentro. Queriamos jantar as sandes que tinhamos comprado na estação mas não sabiamos onde estavam e não havia uma luz sequer para as procurar. Era estranho viajar em total escuridão. Vencidos pelo cansaço, acabamos por adormecer até sermos acordados pelos guardas fronteiriços turcos que irromperam pelo comboio com lanternas e armas de pôr qualquer um em sentido:
- Passa-pooooort!!
- Go stamp! – apontando para umas casotas em madeira lá fora, no meio do nada.
Havia uma fila considerável. Chegada a nossa vez, a oficial de fronteira, de véu, atira com o passaporte para a nossa frente ao mesmo tempo que diz num tom seco:
- Buy stamp!
Acordados em sobressalto, meio desnorteados, conseguimos que um búlgaro nos explicasse o que tinhamos que fazer. Era preciso ir à casota do lado comprar o visto e voltar para o carimbar. Assim fizemos. De volta à primeira casota, a oficial olhou para nós com ar desconfiado e após duas ou três voltas a cada passaporte lá se decidiu. Entretanto os guardas de fronteira preparavam-se para dar ordem para o comboio partir. Verificaram novamente os nossos documentos e soltaram um último monossílabo: OK!
À medida que ia clareando, um cheiro nauseabundo ia-se instalando nas carruagens. Quando ficou finalmente de dia percebemos que vinha dos canais de irrigação que conservavam água apodrecida. Começamos a avistar algumas casas, passámos por pequenas aldeias e mais tarde percebemos que tinhamos entrado numa áerea metropolitana que atravessamos muito lentamente. Por fim, dobrada uma última curva, desvendou-se a enorme ponte sobre o Bósforo e fomos esmagados pela imensidão da cidade.
Istambul é uma das cidades de que mais gostei até hoje.